Qualificação de Doutorado: 23/11/2018
Local: Sala da Patologia do Hospital Universitário "João de Barros Barreto"
Horário: 8h
Título: "AMBIENTE, IDADE E COGNIÇÃO: ESTUDO TRANSLACIONAL"Discente: THAÍS CRISTINA GALDINO DE OLIVEIRA
Orientador: CRISTOVAM WANDERLEY PICANÇO DINIZ
Resumo: O envelhecimento saudável está associado a declínios cognitivos que afetam entre outras habilidades, alguns aspectos da memória, linguagem, função executiva e velocidade de processamento de informação, que podem ser agravados ou melhorados dependendo de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais e que precisam ser conhecidos para orientar políticas públicas relacionadas (ALEXANDER et al., 2012). Considerando-se, portanto, a prevalência de declínio cognitivo em idosos nas instituições de longa permanência ou fora delas é relevante investigar a hipótese de que ações de intervenção multissensorial e cognitiva e da prática de exercício físico regular podem desencadear mecanismos neuroprotetores preservando por mais tempo a integridade cognitiva e funcional. Neste trabalho realizamos ensaios em humanos e em modelo murino. Os ensaios com os idosos consistiram em avaliar o desempenho cognitivo em grupos idosos sob efeito de ambientes distintos e da atividade física. Após avaliação neuropsicológica os idosos foram reunidos em grupos institucionalizados (I) e não institucionalizados. Estes últimos subdivididos em idosos que realizam atividade física sistemática (NIE) ou permanecem sedentários (NIS). Além disso foi realizado o acompanhamento dos grupos diante de um programa de intervenção multissensorial e cognitiva, onde idosos voluntários realizaram avaliação cognitiva pelo mini-exame de estado mental (MEEM) e testes de linguagem antes, durante e após 24 ou 48 sessões do programa de intervenção.Os ensaios de bancada em camundongos mantidos em ambientes enriquecido ou padrão, foram desenhados para exame de duas janelas temporais (adultos de 9 meses e velhos de 23 meses) ao final das quais realizaram-se testes comportamentais e sacrifício dos animais. Seguiu-se a perfusão dos animais com processamento do tecido cerebral e imunomarcação para micróglia, contagem e reconstrução das células imunomarcadas. Os grupos idosos humanos I e NIS apresentaram desempenhos cognitivos semelhantes porém inferiores aos do grupo NIE. Cada paciente foi comparado a si mesmo nas diferentes janelas temporais utilizando um índice de contraste de desempenho cognitivo. Todos os pacientes melhoraram seus desempenhos após a intervenção e a melhora do desempenho cognitivo foi significativamente maior no grupo institucionalizado. Nos grupo I e NIS registrou-se melhora em maior magnitude após as primeiras 24 oficinas de intervenção, seguida de avanço de menor extensão nas 24 oficinas finais. No grupo NIE o padrão de evolução foi mais variável, embora a tendência após as 24 oficinas iniciais tenha seguido o mesmo padrão daquele obtido pelos grupos sedentários. Os resultados dos testes comportamentais em modelo murino apontaram piores desempenhos no reconhecimento de objetos, memória espacial e aprendizado no teste de labirinto aquático em animais velhos do ambiente padrão, grupo que mimetiza, pelas condições ambientais, o grupo institucionalizado no estudo humano. Na análise do componente celular do grupo murino, não houve diferenças significantes entre os grupos experimentais quanto ao número de micróglias, porém ao analisar preliminarmente, a morfologia dessas células no grupo jovem mantido em ambiente enriquecido em comparação ao grupo velho no mesmo ambiente, encontrou-se duas famílias morfologicamente distintas que se diferenciaram por posssuirem maior complexidade morfológica em ambas as camadas analisadas, molecular externa e média do giro denteado. Sugerimos que o ambiente pobre de estímulos somato-motores e cognitivos, no modelo humano e murino pode contribuir para os menores índices de desempenho cognitivo. Tomados em conjunto, os resultados indicam o papel neuroprotetor do ambiente enriquecido pelo exerc´cicio físico e pela estimulação multissensorial e cognitiva do programa de intervenção provendo evidências para formulação de políticas públicas para a população idosa baseada em evidências.